Impactos da pandemia de COVID-19 para a saúde do trabalhador e da trabalhadora da agricultura camponesa no Semiárido Potiguar
Abstract
A pandemia de COVID-19 consistiu em uma grave crise multifacetada. Considerando a sua
magnitude e impetuosidade, caracterizou-se como uma das maiores adversidades de saúde
pública dos últimos anos, e uma grave problemática para distintos âmbitos da sociedade,
inclusive para a Saúde do Trabalhador (ST). Esse contexto pandêmico incidiu sobre
camponeses(as) de Apodi/RN, reconhecidos(as) como comunidades tradicionais e pela
resistência e lutas históricas em defesa de seus modos de vida, trabalho e saúde. Diante disso,
objetivou-se analisar os impactos da pandemia de COVID-19 para a Saúde do Trabalhador e da
Trabalhadora da agricultura camponesa no semiárido potiguar. Consistiu em uma pesquisa
qualitativa, cuja técnica utilizada foi a entrevista semiestruturada com 10 trabalhadores(as) da
agricultura camponesa. A análise dos dados foi realizada a partir da identificação das categorias
analíticas acerca das percepções sobre os impactos da pandemia, os problemas e as necessidades
de saúde, bem como as estratégias de enfrentamento dos(as) trabalhadores(as) camponeses(as).
Dessarte, foi possível apreender que a pandemia impactou no processo de trabalho dos(as)
camponeses(as), no tocante à produção e comercialização, na relação vida/trabalho/saúde, além
de ter evidenciado os sentidos e significados positivos do trabalho no campo enquanto
potencialidade, autonomia, conexão, vínculo e cuidado com a natureza e animais, e meio de
fuga da realidade vivenciada. Apesar de os(as) participantes elencarem problemas de saúde a
partir da perspectiva biomédica, identificou-se problemas ampliados relacionados à vida, ao
trabalho, renda, carestia, insegurança alimentar e isolamento social. Quanto às necessidades de
saúde, constataram-se necessidades de trabalhar, de reorganizar o trabalho no campo adotando
medidas de biossegurança e de um Sistema Único de Saúde (SUS) forte e resolutivo, mas que
não foi capaz de responder de forma integral, universal e equânime essas necessidades.
Ademais, identificou-se como estratégias de enfrentamento a adoção de saberes populares,
busca de serviços de saúde, utilização de redes sociais, redes de apoio, programas, auxílios e
doações para famílias vulneráveis. Portanto, conclui-se que, em alguns casos, a sobrevivência
camponesa tornou-se difícil devido aos distintos impactos, adversidades e vulnerabilidades
ocasionados e/ou intensificados pela pandemia, evidenciando necessidades de saúde desses
sujeitos tão invisibilizados, que carecem do desenvolvimento de políticas públicas que
assegurem melhores condições de vida, trabalho, saúde e a efetivação dos seus direitos