Do chão do terreiro ao ciberespaço: trânsitos digitais no/do ilé àse dajo ìyá omí sábà
Resumo
As religiões de matriz afro-brasileira tiveram suas vozes subalternizadas ao longo do processo
colonizador que sempre valorizou crenças hegemônicas. Mediante lutas e construção de pautas
que trouxessem à tona espaços e momentos que propiciassem uma discussão sobre assuntos
relacionados às suas práticas e temáticas relevantes ao povo de terreiro, esta religião tem se autoorganizado e reivindicado suas demandas. Com a pandemia provocada pela COVID-19, os
rituais do Ilé Àse Dajo Ìya Omí Sábà, terreiro situado em Areia Branca/RN, foram paralisados. A
Casa iniciou, a partir daí, novos trânsitos em plataformas digitais, ocupando o ciberespaço e
atravessando as fronteiras físicas do terreiro. Diante desse percurso, esta pesquisa analisa as
reuniões e os eventos online realizados pelo terreiro em 2020, trazendo como ênfase a reflexão
entre agências (ORTNER, 2007) construídas em torno dessa nova dinâmica como palco de vozes
subalternas (SPIVAK, 2010). Este trabalho desenvolve-se por meio de uma etnografia realizada
em ambientes digitais (ESCOBAR, 2016; RIFIOTIS, 2016; GOMES, LEITÃO, 2017). e busca
compreender quais os trânsitos digitais percorridos pelo terreiro durante o período de isolamento
físico. através da análise das lives e reuniões realizadas pelo terreiro. A partir desse percurso no
ciberespço, o terreiro conseguiu dar continuidade ao sagrado, bem como construir um meio
autogestionado para debater as suas pautas internas.