dc.description.abstract | A presente pesquisa propõe evidenciar a memória discursiva de Arminto, um homem
solitário que, nas idas e vindas à sua terra natal, (re) constrói de modo subjetivo o que
viveu, a partir das relações conturbadas com seu pai, Amando, e com Dinaura, a
amante misteriosa. Essas relações desvendaram uma história cercada de emoções e
nostalgias. O narrador-personagem é de raça branca, advém dos exploradores das
margens do rio Amazonas que, na novela, tem como figura representante o próprio
pai. Amando é, com isso, o elo de conflito da narrativa, uma vez que se opõe
imperiosamente ao protagonista, gerando tensão discursiva. A maneira como o pai
afeta o personagem propicia a estrutura desta tensão melancólica, pois, mesmo
depois de morto, Amando continua presente, tipificado pela violência, pelo
autoritarismo e pelo desprezo impostos ao filho. De modo resiliente, Arminto caminha
na direção oposta à do seu opressor e se nega a receber o legado familiar. Num misto
de loucura e lucidez, o narrador, no limiar da velhice, conduz seu discurso, expõe seu
relato que oscila entre fatos revividos e histórias oriundas da imaginação popular. A
junção dessas duas instâncias de complexidade dramática forma o arcabouço
discursivo impresso na narrativa. O objetivo principal deste trabalho é analisar o modo
como se constrói a memória discursiva do narrador nas circunstâncias de vida em que
ele se encontra. Para tanto, procuramos fundamentar nossa pesquisa em bases
teóricas de Bakhtin (2002); Bosi (1994); Foucault (2008); Halbwachs (2004);
Maingueneau (2018). Assim, esperamos que a narrativa de Órfãos do Eldorado nos
ofereça um mergulho no passado do personagem, com a finalidade de entender
melhor como sujeito no mundo. E que a memória passe a ser uma ferramenta para a
narração, e uma tentativa de imaginar o passado, de (re)construí-lo, de esclarecer um
momento sombrio do personagem. | en_US |