dc.description.abstract | Os estudos sobre a Linguagem possibilitam um campo profícuo de interlocuções, pois
investigam como o sujeito é capaz de utilizar a língua para diversos fins, desde a
simples troca de informações à representação simbólica do ser. As análises
empreendidas por Ferdinand de Saussure (2012), compiladas no Curso de Linguística
Geral, subsidiaram inúmeros estudos posteriores a essa obra de referência,
principalmente no que diz respeito ao signo linguístico. Entre a fortuna crítica que se
apropriou do signo postulado pelo mestre genebrino está a Psicanálise, mais
especificamente os posicionamentos delineados por Jacques Lacan (1998, 2005,
2008), este, por sua vez, pautando-se na reorientação das ideias de outro mestre,
Sigmund Freud (2010, 2011a, 2011b, 2014, 2019). Partindo da dicotomia saussureana
(significado e significante), Lacan tece análises que modificam a visão tanto da prática
psicanalítica iniciada por Freud, quanto do signo estudado por Saussure, ressaltando
o significante como principal mote para o entendimento da linguagem simbólica. Essa
supremacia do significante, como bem afirma o psicanalista francês, é o que permite
compreender os motivos do inconsciente estruturado como uma linguagem. Essa
estrutura tem como principal alicerce as figuras do discurso, a exemplo da metáfora,
que constantemente enunciamos em nosso dia a dia sem ao menos nos darmos conta
dessa utilização. Os estudos realizados por George Lakoff e Mark Johnson (2002)
envolvendo as Metáforas da vida cotidiana permitem elucidar como o recurso
metafórico é capaz de orientar nossas concepções comuns, e, por meio delas,
estruturar os significados que atribuímos a diversas ações rotineiras. Ações essas
que, em tempos de pandemia, são bastante intensificadas, principalmente no estímulo
à proteção contra o Coronavírus. Ao mesmo tempo em que esse instinto protetivo
orienta o uso das metáforas cotidianas, realçam (ou desnudam) o sentimento de medo
embutido em cada metáfora, haja vista caracterizar a reação a determinado perigo
externo (FREUD, 2014). Como maneira de identificar como se processa o sentimento
de medo da COVID-19, encontramos no gênero meme a ferramenta imprescindível
de disseminação de sentimentos sobre a pandemia. Recorremos, substancialmente,
aos pontos de vista organizados por Viktor Chagas (2020) com intuito de respaldar os
estudos sobre esse ascendente gênero. Ora incitando a proteção, ora as
consequências que a infecção pelo vírus pode acarretar, o meme representa toda uma
comunidade discursiva que mobiliza a linguagem, em seus aspectos verbais e não
verbais, com o intuito de agregar opiniões comuns a respeito de determinada temática,
no caso, a pandemia do Coronavírus. Tendo isso em vista, este trabalho monográfico
investiga a metáfora do medo presente em memes sobre a pandemia do novo
Coronavírus no Brasil, considerando os pressupostos teóricos da Linguística e da
Psicanálise, partindo da problemática de como se dá a construção dessa figura para
a constituição do sentimento de medo presente nos memes sobre a pandemia da
COVID-19 em âmbito nacional. Como resultado, observamos que o medo nos memes
é motivado pelo significante que simboliza o momento mais alarmante em cada
período da pandemia, seja no recorde do número de infectados, seja no número de
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