Narrativas individuais... Memórias coletivas: diálogo, resiliência e transformação

Abstract

A admiração sobre a história de vida de uma professora do ensino superior proveniente da zona rural suscitou questionamentos sobre a permanência nos estudos, em meio a adversidades, de estudantes de origem popular. Tais questionamentos sistematizaram-se num problema de pesquisa que encaminhou na busca da compreensão dos elementos individuais e coletivos que permearam a trajetória da Professora e de sua família e que colaboraram para a construção da resiliência e superação (ou não) de limitações relativas ao acesso e permanência na escola. Para o alcance desse objetivo, buscamos identificar limitações e entender aspectos coletivos presentes nesta trajetória, bem como, desenvolver reflexões teóricas sobre a temática. Para tanto, realizamos um estudo de natureza qualitativa de caráter dialógico e dialético pautado na compreensão de possíveis aproximações entre ideias de Paulo Freire sobre diálogo, problematização e transformação da realidade e contribuições da (auto) biografia, especialmente fundamentadas nos estudos de Dominicé, Passegi, Souza, Josso, Nóvoa e Finger que discutem a (auto) formação que se desenvolve por meio das reflexões sobre as histórias de vida, dando especial atenção aos estudos sobre a contribuição da resiliência (CYRULNIK) para a formação humana. Utilizamo-nos da metodologia da problematização da realidade baseada nas ideias de Freire, dinâmica de reflexão que fundamentou os estudos de Angotti, Delizoicov e Pernambuco sobre a produção de conhecimentos. Ainda, enquanto dispositivo de pesquisa, recorremos ao que intitulamos, inspiradas em Freire, de Círculos de cultura, momentos de diálogo e reflexão nos quais a história de vida da Professora constituiu-se no ‘fio condutor’ que possibilitou a emersão de memórias coletivas sobre situações e desafios comuns relativos à necessária resiliência para a permanência de filhos da classe trabalhadora nos estudos. Portanto, os estudos e as reflexões aqui desenvolvidos apontam a resiliência como um construto coletivo que possibilita a permanência na adversidade. Caminhando por esta compreensão, a construção da resiliência na educação está intimamente conectada ao diálogo, por meio do qual é possível transformar realidades.