O processo de reescrita do conto “Maria”, de Conceição Evaristo: uma proposta de sequência didática
Abstract
Esta pesquisa busca discutir e empregar o processo de reescrita para a formação do/a
estudante enquanto autor/a crítico/a, por meio da produção textual do gênero “conto”.
Mediante à abordagem do conto “Maria”, presente na obra Olhos d’água (2016), de
Conceição Evaristo – que denuncia o racismo e a condição de mulher negra no Brasil
– objetivamos propor uma sequência didática (SD), voltada ao ensino médio, que
desperte a autoria crítica e autônoma sobre a construção étnica-racial. Como
fundamentação teórica, este trabalho se vale dos estudos de reescrita (FIAD, 2006;
ANTUNES, 2003) e do gênero “conto” (MOISÉS, 1967; GERMANO, 2019), visando à
produção de um projeto de sequência didática (DOLZ, NOVERRAZ E SCHNEUWLY,
2004), de acordo com as concepções de gênero e raça, advindas dos feminismos
negro e decolonial (KILOMBA, 2021; HOOKS, 1995). O estudo orienta-se pela
abordagem qualitativa e explicativa, sendo delineado pela pesquisa bibliográfica com
fim na produção de uma proposta de sequência didática, constituída por seis
encontros. Dentre os resultados obtidos, nossa proposta demostrou a possibilidade
de construção de um ensino voltado para autoria crítica, autônoma e política. Por meio
do ato de planejar e reescrever, o/a discente sente-se, e atua, como sujeito de seu
dizer. Também foi comprovado ser possível elaborar um projeto com temáticas sobre
gênero e raça, considerando os diferentes sujeitos que compõem o contexto escolar,
a partir da audição de suas vozes. Constatamos que o conto “Maria”, escrito por uma
mulher negra, oportuniza que educandos/as negros/as sintam-se representados/as,
possibilitando a formação ética da turma. Acreditamos, assim, que este estudo, além
de contribuir com as pesquisas voltadas para a área do Ensino de Língua Portuguesa,
pode colaborar de forma significativa para o próprio ensino, oferecendo ao/a
professor/a do nível médio uma proposta de SD com a reescrita de forma crítica,
autônoma e inclusiva no que diz respeito ao combate ao racismo.