A criminalização da mulher pobre a partir da aplicação da Lei de Drogas (lei no 11.343 de 23 de agosto de 2006) sob a perspectiva da criminologia crítica e feminista
Abstract
O presente trabalho tem por objetivo trazer uma análise acerca da Lei de Drogas nº
11.343 de 2006, trazendo inicialmente um breve histórico acerca da criminalização
das pessoas pobres no país, analisando como a história do Brasil enquanto colônia
escravocrata influenciou para a segregação das pessoas negras no país e
especialmente das mulheres negras que eram vistas como além de escravas, objetos
sexuais para os senhores de engenho. Foi estudado ainda no primeiro capítulo a
influência do modelo norte-americano de guerra às drogas, demonstrando como como
ele influenciou a formação das legislações brasileiras e a adoção das práticas
abolicionistas e punitivas. E a partir dessa análise se pôde partir para o estudo da Lei
propriamente dita, a qual trouxe modificações importantes a serem levadas em
consideração, mas também apresentou falhas no cumprimento de seus objetivos bem
como na sua proporcionalidade, as quais influenciaram no aumento do
encarceramento de pessoas pelo crime de tráfico, trazendo uma estigmatização ainda
mais pesada para as mulheres. No segundo capítulo foi realizado uma análise acerca
da criminalização das mulheres ao longo da história, percebendo que a mulher era
vista como potencialmente mais criminosa quando não seguia os padrões de
feminilidade impostos pela sociedade. Foi percebido ainda atualmente um certo
padrão no perfil de mulheres encarceradas no país, sendo a maioria negras, de baixa
escolaridade, a maioria até 30 anos, com filhos e com histórico de parceiros, filhos ou
outros membros familiares já envolvidos com o crime de tráfico. Tendo sido observado
também que o crime de tráfico é responsável por uma porcentagem muito maior de
mulheres encarceradas do que outros crimes como roubo, furto, homicídio e latrocínio,
tendo esse número aumentado consideravelmente após a vigência da Lei de Drogas
nº 11.343. Já no terceiro capítulo foram trazidas análises acerca das perspectivas
criminológicas acerca do encarceramento de criminalidade femininas. Foi trazida a
criminologia feminista através da teoria dos Papéis Sociais, e ainda a criminologia
crítica, através da teoria do Labelling Approach, rotulação ou etiquetamento,
percebendo que ambas as teorias têm pontos pertinentes que podem ser levados em
consideração para um melhor entendimento do fenômeno estudado do aumento do
encarceramento feminino.