Cristianismo primitivo aos olhos de um historiador: as representações presentes nos escritos dos pais apostólicos (90 – 150)
Abstract
Esta pesquisa aborda o Cristianismo primitivo dentro do campo da História Cultural buscando
compreender as formas de compreensão de mundo dos primeiros cristãos mediante a análise
dos escritos dos Pais Apostólicos, os documentos cristãos mais antigos depois do Novo
Testamento. Inicialmente analisa-se as contribuições dos mundos helenístico, romano e judaico
na formação e expansão da religião cristã. Posteriormente aborda-se as crenças e as ideias
presentes no mundo mediterrâneo por ocasião do aparecimento e difusão do cristianismo.
Tendo em vista que todo discurso pode ser constituído por representações que, ligada aos
sujeitos sociais, expressam apreciações de mundo, fez-se, em seguida, a análise do corpo
documental supracitado a fim de perceber as representações construídas por esses documentos
a partir de categorias mais específicas desse grupo religioso – Deus, Cristo, Ressurreição,
Igreja, Martírio, Mundo, ordem cosmológica e tempo. Por fim, para fazer a relação da pesquisa
com o ensino de história, foi realizado um estudo de caso, no qual analisou-se a forma como os
livros didáticos usados na Escola Estadual Alcides Wanderley – local de atuação do autor da
pesquisa – abordaram o assunto do Cristianismo primitivo. Percebeu-se que todas as obras
didáticas apresentaram uma sequência narrativa semelhante: surgimento e expansão do
cristianismo, perseguição por parte do Império Romano e conquista da liberdade religiosa
através do imperador Constantino. Essa abordagem privilegia uma história factual baseada no
destaque de alguns acontecimentos e personagens principais, mas deixa de fora a percepção de
mundo dos primeiros cristãos. A fim de superar essa lacuna, foi desenvolvida e aplicada uma
Sequência Didática que uniu a sequência narrativa dos livros didáticos com a apresentação da
visão de mundo dos cristãos primitivos mediante o uso de dois dos documentos analisados – O
martírio de Policarpo e A Epístola à Diogneto.