Multiletramentos na aula de Língua Portuguesa do Ensino Médio: um estudo sobre o livro didático da escola pública
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Data
2018-03-09Autor
Andrade, Ana Paula Oliveira Vale de
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Perante as contínuas mudanças sociais, culturais e tecnológicas da sociedade atual e da
emergência de múltiplas linguagens na escola, o livro didático de Língua Portuguesa (LDP)
apresenta-se como um dos principais recursos didáticos do professor de Língua Portuguesa do
ensino médio da rede pública brasileira. Assim, por mais que esse recurso seja avaliado por
uma equipe de especialistas do Ministério da Educação, acreditamos que há lacunas na oferta
de um ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa dos estudantes do nível médio de ensino
que utilizam esse recurso com base na pedagogia dos multiletramentos, pois o material não
apresenta propostas que se alinhem a essas mudanças. À vista disso, esta pesquisa apresentou
a seguinte indagação: De que maneira o LD intitulado “Língua Portuguesa: linguagem e
interação” apresenta/sugere o desenvolvimento dos multiletramentos através dos gêneros
discursivos no ensino médio da escola pública? Partindo desse questionamento, neste estudo,
de modo geral, investigaram-se as práticas de multiletramentos inscritas no livro didático:
Língua Portuguesa: linguagem e interação, volume 2 (FARACO; MOURA; MARUXO
JÚNIOR, 2014), do ensino médio de uma escola pública a partir da identificação de gêneros e
de atividades que contemplem os gêneros como práticas de multiletramentos nos LDP. Este
trabalho caracteriza-se como uma pesquisa exploratória que apresenta, como método, a
análise documental, e está pautado na abordagem mista (quali-quantitativa). Para realização
da análise dos dados, fundamentou-se na pedagogia dos multiletramentos de Rojo (2012),
com base na identificação de características de práticas multiletradas (interativa, híbrida,
prática situada, instrução aberta, enquadramento crítico e prática transformadora) nas
atividades de produção textual de cada capítulo do LDP (corpus) analisado. Os resultados
demonstraram que, no LDP, as articulações entre o verbal e o não verbal são realizadas e
discutidas apenas parcialmente. O desenvolvimento do gênero escrito predomina sobre o oral,
o que deixou transparecer que o trabalho com a oralidade ainda é incipiente. Entendeu-se que
os princípios didáticos da pedagogia dos multiletramentos também não foram contemplados
nos capítulos do LD, tendo em vista que não houve uma articulação entre os gêneros (oral e
escrito) e as novas mídias. Assim, pôde-se concluir que o livro, de modo geral, não apresentou
uma proposta inovadora que trabalhasse com a abordagem da diversidade cultural, da
diversidade de linguagens e mídias que circundam a sociedade contemporânea. Enfim, os
capítulos do LDP não apresentaram propostas efetivas de multiletramentos, pois não
abrangeram atividades de leitura crítica, análise e produção de textos multissemióticos com
enfoque multicultural; ocasionando, com isso, fuga dos princípios didáticos que decorrem de
uma abordagem dos multiletramentos. Diante dessa lacuna encontrada no LD analisado,
sugeriu-se, como alternativa para futuras pesquisas, o desenvolvimento de práticas
multiletradas a partir da elaboração e aplicação de uma sequência didática (DOLZ;
NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2011) para a 2a série do ensino médio, pautada no gênero
documentário, envolvendo o texto oral, o texto escrito e as novas mídias.